ROOM / O QUARTO DE JACK (2015) - CRÍTICA



FICHA TÉCNICA

Sinopse:
Uma mulher mantida em cativeiro há 7 anos vive com seu filho, Jack, de apenas cinco anos, num quarto improvisado em um galpão. Enquanto ela vive a sufocante história de terror de seu cotidiano, seu filho enxerga o cubículo em que vivem como o único mundo real.

Room é uma película genuinamente sufocante. Em essência temos aqui uma das mais extraordinárias experiências cinematográficas do mito da caverna de Platão. Existe, intrínseca a todos os dilemas robustos e pesados do longa, uma discussão muito forte sobre a essência da felicidade humana. Em detrimento de tudo que a vida pode significar, como podemos ser capazes de superar eventuais acontecimentos que nos afetam por completo, sejam eles bons ou terríveis? Até que ponto nossa existência protagoniza algum papel no mundo que nos acerca? 



A direção do Lenny Abrahanson é impecável. O ritmo do filme é muito bem estabelecido durante o longa, que oscila bem entre momentos fortes, tristes e o verdadeiro horror psicológico instaurado na vida dos protagonistas. Há aqui um trabalho excelente de direção de atores, que entregam interpretações sensacionais, dois merecem um destaque especial:

Brie Larson exprime em sua personagem cada pontada reprimida de angústia e desespero, numa mulher que pôs sobre si o peso do mundo para proteger o seu filho, e está quase sempre no limite sufocante de suas emoções. É uma interpretação minuciosa, cheia de fisicalidade expressiva, entregando um genuíno e irreparável desespero, seu Oscar de melhor atriz não poderia ter sido mais bem merecido. 

Da outra ponta, o trabalho do Jacob Tremblay é o grande alicerce do filme, pois os olhos do público não são outros senão os olhos de Jack. Sua interpretação é natural, viva, sem absolutamente nenhuma afetação. Ele convence maravilhosamente bem o público dos dilemas de seu personagem, que tem uma alta complexidade emocional. Fiquei  verdadeiramente boquiaberto com o que esse menino fez aqui! Muito triste não ter tido sequer uma indicação ao Oscar, poderia ter preenchido o lugar do Matt Damon maravilhosamente bem, já que até agora não entendo a indicação desse cidadão.



A cinematografia do filme é claustrofóbica, adornada por tons frios que reforçam a sensação de angústia da personagem da Brie Larson. O enquadramento faz grande uso de close-ups e de uma câmera subjetiva que te insere de maneira puramente imersiva dentro daquele ambiente minúsculo. Quando o filme muda de tom, por volta dos 60 minutos, a cinematografia muda pra um desfoque esbranquiçado um bocado perturbador, reforçando com perfeição a presente situação da película.

O roteiro é adaptação do livro homônimo da autora Emma Donoghue, que é também a roteirista do filme. É repleto de diálogos excelentes, com destaque especial pra construção do personagem Jack, que carrega em cada nuance uma verossimilhança infantil muito bem vinda. É excelente ver uma criança interpretando genuinamente uma criança, e isso é um grande acerto. Há porém, um certo personagem que tem uma construção incompleta de arco. Ele aparece, tem alguns minutos de tela, estabelece o seu dilema pessoal que constrói um conflito na trama, mas repentinamente esse conflito se esvai e o personagem simplesmente desaparece. Não vemos ele em momento algum no que se segue, e seu conflito, que poderia ter efetivamente movimentado o plot de alguma forma, simplesmente se esvai com ele dando lugar aos outros inúmeros dilemas dos personagens.

A trilha é bem marcante, usando algumas dissonâncias perturbadoras para criar uma atmosfera quase experimental. O contraste entre as cordas e o piano é muito bem posicionado, seja para conceber o desespero e a tensão ou mesmo a emoção mais sensitiva dos momentos mais pessoais entre mãe e filho. Existe um emergente senso de inquietação durante todo o longa, que se aproveita muito bem seja da trilha tensa ou dos momentos de silêncio muito bem posicionados.




Room é um filme pesado, difícil, incômodo e terrivelmente perturbador. Mas é acima de tudo uma extraordinária história sobre amor fraterno, sacrifício e desespero. Tecnicamente beira o irretocável, e suas falhas infinitesimais nem de longe reduzem a grandiosidade da obra.

NOTA: 10.0/10.0

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