LA TORTUE ROUGE / A TARTARUGA VERMELHA (2016) - CRÍTICA


FICHA TÉCNICA:

Sinopse:
Um homem perdido no mar acaba por ficar isolado numa ilha deserta e, durante suas inúmeras tentativas de fuga, se vê confrontado por uma misteriosa tartaruga vermelha.



La Tortue Rouge nos apresenta uma misteriosa fábula que faz alusão a inúmeros aspectos da vida humana: a solidão, o propósito da existência, a sutileza minuciosa do ser em contraste com a amplitude do exterior. Carrega uma leveza natural quase onírica, é um filme sutil, imersivo, reflexivo e absolutamente maravilhoso.

A cinematografia é carregada pela suavidade dos tons pasteis, adornada por longos planos panorâmicos estonteantes, com uma riqueza de detalhes naturais que adota um gigantesco contraste ao design simplista escolhido para as personagens. O protagonista aqui é a natureza, o encontro entre o natural e o antropológico, e a maior parte das metáforas é construída por meio desse panorama paradisíaco exibido na película. A animação é também muito fluida, e em detrimento da simplicidade do design dos personagens, o movimento deles é sempre muito orgânico, com quadros muito consistentes como era bem esperado de um longa que carrega o selo da Ghibli.



Um ponto que precisa ser citado, e esse é dos muitos méritos talvez o maior de todo filme, é o maravilhoso trabalho de trilha concebido pelo Laurentz Perez Del Mar. A riqueza sonora desse filme é de deixar estupefato o mais apaixonado ouvinte de peças eruditas. Há muito uso de cordas e sopros, entregando um tom New Age para as composições que contrasta maravilhosamente bem com a suavidade do filme. A construção do tema principal é feita aos poucos, como a apresentação do tema de uma grande sinfonia em forma sonata. Por fim temos a eclosão magistral do coro que apresenta o tema principal, cheio de impacto e sentimento de maneira indescritível.

O roteiro é lírico e a ausência de diálogos é a estrutura primordial dessa apresentação, pois permite em conjunto da maravilhosa trilha sonora uma experiência puramente cinematográfica que enriquece a apoteose da natureza e do mais intimo sentimento humano: a solidão. Não há verbalizações, não há nada mastigado aqui, e a riqueza da metalinguagem desenvolvida por meio da imagem da tartaruga é enorme, permitindo um inúmero infindável de interpretações (mesmo apresentando com certa clareza uma ou outra intenção do diretor - o que é muito bom, pois o filme faz um convite muito claro a reflexão por meio da fábula).



La Tortue Rouge é um filme belíssimo com uma trilha sonora e uma arte de cair o queixo que merece ser assistido por qualquer amante da sétima arte. Melhor animação de 2016, uma pena muito grande não ter levado o Oscar. (O lobby da Disney é sempre muito forte, uma pena).

NOTA: 10.0/10.0

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